Nossa tia Shao, que título impactante… aposto que vai ser um post bem bacana bem filosófico… Nada disso, podem tirar o cavalinho da chuva (uma expressão que sempre me deixa estupefata pensando de onde esse povo tira essas expressões??? O que o Cavalo na chuva tem a ver com alguma coisa?).

Eu estava pensando ontem de noite, estava rolando para lá e para cá na cama tentando dormir… Aí eu estava com dor de cabeça… E quando você quer dormir e não consegue e ainda está com dor de cabeça você percebe todos os barulhos da madrugada. E isso me fez pensar que em cidades grandes como São Paulo raramente vc realmente ouve o silêncio. Parece contraditória esta expressão ‘ouvir o silêncio”, na verdade é não ouvir som algum. Não ouvir nada… só o vazio do silêncio.

Não acho que realmente exista neste mundo silêncio absoluto, os físicos terão mais propriedade que eu para falar sobre o assunto. Mesmo em cidades menores, cidades do interior do país, onde a concentração de pessoas é menor, tem barulhinhos noturnos, grilos, barulho do vento… coisas assim.

Mas… cidades grandes são realmente mais barulhentas. Porque sempre tem gente acordada, andando pelas ruas. E em noites de insônia devido ao calor vc pode ouvir todos os barulhos dessas cidades, maiormente… os barulho das pessoas.

E é a coisa mais irritante do mundo vc ficar insone ouvindo esse barulho dessa galera que não dorme e fica zumbizando pela noite. Ontem a noite eu não estava com insônia, mas enquanto eu estava aqui tentando assistir um documentário sobre brasileiros que moram em Taipei… aquele povo batucando e gritando no meio da rua me irritou bastante.

E eu me lembro na noite que eu estava morrendo de calor e por conseguinte sem conseguir dormir de ter pensado nas outras pessoas que podiam estar passando as suas noites em claro, e suas razões. Eu já tive a minha cota de noites em claro. Minhas razões foram diversas.  Passei noites em claro em festas (poucas eu confesso… não sou um ser festivo), passei a noite em claro vendo tv (filmes, séries, eventos de esporte), passei a noite acordada lendo, passei a noite inteira acordada na internet, navegando por mil e um sites ou conversando com amigos que moram longe, uma vez eu me lembro de ter ficado acordada a noite toda observando o céu eu vi o sol se pôr e quis ver o sol nascendo. Coisa de doido… alguns dos meus primos tentaram ficar acordados comigo mas não conseguiram.

E eu me lembro dessa ter sido uma das noites mais legais da minha vida. Foi uma das primeiras vezes que eu me propus a fazer alguma coisa, e fiz… fui até o fim, sem contar com a ajuda de ninguém ou de apoio. Eu só queria ver o nascer do sol… eu podia ter ido dormir e colocado o relógio para despertar na hora que o sol fosse nascer. Mas não… anyway… foi bacana.

Eu me lembro que na época eu estava bem doente, e eu tinha lido o livro Entrevista com o Vampiro (Estilística apaixonante da Anne Rice e tradução primorosa de Clarice Lispector). Eu me lembro da parte em que Lestat pede para o Louis se despedir da luz do sol, ele vê o sol nascer e se por pela última vez e depois o Lestat o transforma em vampiro… nunca mais ele ia poder ver a luz do sol. Eu me lembro de ter lido e pensado como a transformação de Louis em vampiro era mais ou menos como uma forma poetizada de morte e pensei… nossa, como eu estou doente, e se eu morrer em breve? E se esse dia que passou foi meu último? Eu nunca vi o sol nascer… então eu resolvi ficar acordada aquele final de semana, ver o sol se pôr e depois ver o sol nascer.

Uma noção romantizada da vida eu tinha nessa época, me perdoem… mas eu era adolescente, era meu primeiro ano na faculdade. Não temos esses distúrbios romanescos muitas vezes na vidas. Temos que nos deixar levar por tais arroubos de vez em quando. Nem que seja para olhar para trás e se achar idiota. E eu já fiquei acordada por motivos bem mais tontos…

Já passei noites em claro fazendo trabalho de escola ou estudando pra uma prova particularmente difícil. Já passei a noite em claro tomando conta do sono febril dos meus irmãos, mas isso só quando minha mãe não podia, e foram poucas. Passei noites em claro orando, pedindo a Deus alguma coisa, passei noites inteiras me preocupando com o futuro, com a saúde da minha mãe.

Eu li em algum lugar que o cérebro da gente não aguenta ficar mais de 30 horas sem dormir ela começa a ter problemas sérios cognitivos. Eu me lembro de nos primeiros vinte dias da morte da minha mãe de dormir cerca de duas horas por noite… e era um sono cheio de sonhos ruins. Não fiquei vinte dias absolutamente sem dormir, mas dormi pouco pra caramba então para mim parece que eu fiquei 20 dias acordada direto…

O que eu quis dizer com todo esse preâmbulo é que as vezes a noite está calma, as vezes agitada. Mas no final das contas o que realmente importa é como estamos por dentro… a calma ou a agitação, o silêncio ou o barulho, a claridade ou a escuridão das noites e dias das nossas vidas geralmente não passam de reflexos do que estamos sentindo naquele momento.

Bom, vou terminar esse post por aqui porque ontem a montagem da minha cadeira zuou meu pulso, apesar de meu irmão ter me ajudado a montar. Essa minha tendinite crônica não tem jeito, é muita tecnologia para pouco tendão nesta vida.

See you guys around the corner
Shao