Fala terráqueos como vão vcs? Cês tão legais? Espero que sim… Eu tô legal… Aqui estamos nós em nosso ducentésimo segundo dia (202.º para vcs não perderem a conta) e vigésima nona semana de distanciamento social. Caraca velho! Eu não faço ideia de quanto tempo ainda temos pela frente nessa quarentena meus amigos.
Bom, mas como sempre, nem era disso que eu queria falar no texto de hoje. Eu estava me lembrando esses dias, tô escrevendo este texto no final de 2020 com as festas chegando e por conta disso a gente fica mais nostálgico. Minha mãe, meu avô e minha avó eram figuras centrais na minha vida, ainda mais nesse período de festas de final de ano e tudo mais. E eu me lembrei de algo que acontecia direto e que hoje me fez sorrir. Quando minha mãe se separou do meu pai biológico, eu e ela fomos morar com meus avós. E ficamos nós quatro por anos, até que a minha mãe se casou novamente com meu pai adotivo.
E eu naturalmente sentia muita falta dos meus avós, pois eu os via todos os dias, e depois do segundo casamento da minha mãe, apesar de a gente morar perto eu só os via nos finais de semana. Entretanto, de vez em quando a minha mãe deixava eu com a minha avó quando ela precisava, trabalhar até mais tarde, ou quando ela e meu pai tinham algum compromisso da igreja juntos e iam ficar até tarde (eu lembro que eles às vezes trabalhavam na quermesse) e eu me lembro de uma vez em especial.
Era uma sexta-feira de julho, e eu fiquei aquele dia todo com a minha avó e meu avô porque eu não queria ir para a quermesse. E então tarde da noite, eles chegaram da igreja e passaram na casa da minha vó para me levar para casa. Mas eu não queria ir para casa, eu estava na cama, vendo novela com a minha vó, e no dia seguinte era sábado e eu sabia que meus primos iam chegar logo cedo e eu queria brincar com eles… de preferencia o dia todo hahahaha.
E eu sabia que se eu fosse para casa, eu ia perder o resto da novela, e ia ser um parto pro meu pai deixar eu sair de casa logo cedo para ficar brincando na rua com meus primos, e depois ele ia querer que eu voltasse cedo, para tomar banho e certeza que ele ia querer que mais à noite eu fosse pro diacho da quermesse. E não era nada disso que eu queria, eu queria ficar na minha vó, acordar, tomar café e cair de cara com a minha bicicleta na rua com meus primos e de noite de preferência voltar pra casa da minha vó e fazer tudo de novo no domingo hahahahaha. Se eu tivesse sorte, um dos meus tios ia deixar meus primos ficarem uma semana, ou uns dias na casa da minha vó, porque eram férias escolares, e então meu mundo estaria perfeito.
Não me entendam mal, algumas coisas da quermesse eu curtia. Mas eu não gostava de outras, das crianças que eram filhos dos amigos do meu pai, eu sempre passava fome nas quermesses apesar daquele monte de comida que tem porque a maioria das coisas eu tinha alergia… Vcs conhecem comida de quermesse né? Uma grande parte vai milho, amendoim e outros grãos que se eu comesse eu ia ficar três dias com dor de barriga. Então se tivesse cachorro-quente, churrasquinho e refrigerante eu comia, se não tinha eu ficava com fome.
Então, quando vc tem dez anos vc não quer ir num lugar onde vc tem que ficar com os adultos, que a comida é ruim e não tem nada pra fazer… Ainda mais se vc pode ficar num lugar onde a comida é boa, seus amigos estão lá e vc vai se divertir toneladas. Eu não sei porque até hoje, meu pai fazia a questão de ser o cara mais chato do planeta. Eu não sei se ele achava errado eu ficar pentelhando a minha vó, se ele não gostava dos meus primos, se ele queria mostrar a família nova dela pros amigos da igreja, se ele achava que isso era educar criança… pra mim ele era só chato pra caramba hahahahaha.
Então, quando eles foram me buscar naquela noite o que eu fiz… eu fingi que eu estava dormindo. Minha vó sabia que eu não tava dormindo, eu tava assistindo “Pantanal” com ela, que passava tarde pra caramba na TV Manchete. Minha mãe sabia que eu não tava dormindo porque ela sabia que eu não dormia cedo… não durmo até hoje galera, eu sou uma coruja, se eu pudesse eu acordava todos os dias depois das dez da manhã e ficaria acordada até às três da madrugada, são as horas que eu funciono melhor na vida.
Então lá tava eu fingindo que tava dormindo, minha mãe fingindo que acreditava e minha vó me servindo de cúmplice hahahahahaha. E meu pai fazendo o papel do chato. Vai lá, acorda ela, eu falei para ela que ela ia voltar para casa hoje, que não tinha essa coisa de ficar dormindo na casa dos outros. Aí minha vó, ahhhh, mas aqui não é casa dos outros, ela morava aqui até ontem. E minha mãe apaziguando, deixa ela dormir… tá frio, amanhã ela vai para casa. Detalhe, a minha casa era na rua de baixo… não dava nem 200 metros de distância.
Daí eu percebi que eu tinha duas cúmplices, no final meu pai chato, a minoria, foi vencida… Minha mãe disse pra minha vó, a senhora manda ela pra casa amanhã cedo depois que ela tomar café? Minha vó… mando pode deixar (mandou nada… fiquei lá o dia todo hahahaha). Aí minha mãe foi no quarto dizendo que ia me dar o beijo de boa noite, ela me beijou na testa e disse baixinho… sem-vergonha, eu sem que vc não tá dormindo, e riu. E eu perguntei cochichando… posso ficar mãezinha? Ela riu e fez que sim com a cabeça, me deu mais um beijo e foi embora. Minha vó levou eles até a porta, trancou tudo… e voltou pro quarto onde eu estava deitada e a gente riu baixinho juntas hahahahahaha. E depois a gente terminou de ver a novela.
Olha, eu já passei perrengue para caramba na minha vida… passei por coisas que eu realmente não queria passar, que se eu pudesse apertar um botãozinho e resetar tudo eu apertaria sabe? Mas, em simultâneo, eu tive uns momentos fodas para caralho também (desculpem o palavreado chulo, mas creio que seja a expressão linguística mais adequada). Fora isso, dizem alguns filósofos que somos o resultado das nossas escolhas, do que vivemos… se temos tristeza e saudade é porque um dia vivemos momentos felizes, momentos incríveis.
Eu tenho muitas saudades, de muitas coisas, mas foi porque eu vivi muitas coisas. Há bem pouco tempo era bem dolorido para mim, lembrar de certas coisas. Tanto que eu preferia nem lembrar de nada. Por muitos anos eu mantive os sentimentos tristes, trancados numa caixinha. Entretanto, eu não tinha me dado conta que com eles estavam também trancafiados as lembranças felizes.
Eu estava presa nesses acontecimentos ruins do passado. Acho que agora não estou mais, acho que depois de muito tempo eu estou vivendo no presente de novo, e eu consigo me lembrar de coisas do passado, sem que me causem tanta dor. Eu ainda tenho um caminho enorme a percorrer. Tem dias que é tudo muito pesado ainda… tem dias que eu não boto a cara pra fora e não mexo na caixa das lembranças porque nesses dias ainda dói. Mas sabe… eu tô bem melhor, e hoje eu me lembrei a lembrança não me trouxe dor, eu me lembrei e fiquei feliz.
Vou terminando este post por aqui… Espero ver vcs no próximo texto! Se vc curtiu o texto clique aí na estrelinha, compartilhe com seus amigos e se vc também tem um blogue, deixa aí embaixo nos comentários que eu adoraria conhecer o blogue de vcs!
Abraços, Shao.
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