Buenas crianças… ontem eu li uma reportagem sobre uma aluna Adventista de uma Universidade Católica que ganhou na justiça o direito de não frequentar as aulas no período entre as 18 horas da sexta e as 18 horas do sábado alegando seu direito a liberdade de religião (aqui o link para quem quiser lera reportagem).
Como é um assunto que muito me interessa, tanto pelo ângulo jurídico (para quem não leu ali ao lado o meu perfil eu sou estudante de Direito) quanto pelo ângulo religioso da coisa. Então vamos analisar a notícia por alguns ângulos.
Entretanto, antes de tocar no assunto vamos deixar algumas coisas bem claras… Primeiramente, a galera que desembarca aqui no meu site geralmente vem por causa dos posts estranhos, dos posts sobre tatuagem e coisa e tal, a maioria nem sequer sabe que euzinha, sou cristã, sou evangélica (Óhhhhh!!! Não!!!). Simmmm sou… Não é porque eu falo mal do cristianismo que eu sou ateia. Eu acredito em Deus e na bíblia. Crer em algo, não significa ser cego. As pessoas geralmente confundem fé com fanatismo.
A linha entre a Fé e o Fanatismo muitas vezes é extremamente tênue, mas ela existe. Mas na minha leiga concepção, fé é algo muito particular enquanto fanatismo é algo mais geral… fanatismo geralmente (eu disse geralmente, mas existem exceções, sempre existem as exceções) acontece quando tem um ajuntamento de pessoas que compartilham de mais ou menos as mesmas crenças e todos entram em histeria coletiva. A fé geralmente é guiada por um conjuntos de regras morais, particulares enquanto que o fanatismo é guiado pela ignorância.
As pessoas acham que para realmente acreditar em algo elas precisam acreditar cegamente. Não é bem assim. É necessário questionar as próprias crenças para que você não se perca, não se afaste da sua fé e não caia nas armadilhas do fanatismo. A própria bíblia, que muitos cristãos ignorantes e aproveitadores usam como desculpa para sapatear em outras religiões e discriminar outras pessoas e crenças ensina a necessidade de se questionar. Saber o que é certo e o que é errado e a não ir acreditando em qualquer um que sai falando por aí em nome de Deus e Jesus, etc. Assim sendo, eu questiono sim. Sei que o Cristianismo não é perfeito, mas nada nesse mundo é…
Como eu disse a maioria dos acessos do meu blogue são de pessoas que não compartilham a mesma crença que eu. Infelizmente, a maioria dos cristãos que acessaram meu blogue, desde que eu postei coisas sobre outras crenças e outra culturas, só acessaram para xingar e dizer que todo mundo que aparece por aqui vai para o inferno e bláblábla… Eu tenho vergonha dessas pessoas, na boa.
Esclarecido este pequeno fato vamos falar da notícia em si. Então, a aluna adventista entrou na justiça e conseguiu não precisar assistir aulas de sexta e sábado. Como eu me sinto com relação a essa notícia? São sentimentos conflitantes… vamos por partes.
Um lado de mim fica contente que ela tenha conseguido uma decisão favorável, que um juiz tenha levado tanto em consideração a liberdade de religião. Yay, comemoremos… é democracia! E a letra do texto Constitucional levado ao pé da letra. Como diz o texto mesmo, se até o exército, que é uma organização mais rígida respeita a liberdade de culto e de religião, porque outras instituições, menos rígidas não devem levar isso em consideração??? O que o texto não disse é que geralmente em ambiente militar o direito de ir e vir dos soldados e superiores é limitado. Se o estado limita o seu direito de ir e vir (à igreja por exemplo) ele obrigatoriamente tem que te dar assistência (é chamada de assistência religiosa). Esse meu lado que fica feliz com a conquista dela diz: Yay, dá-lhe garota… é isso mesmo, se não conseguiu falando na faculdade tem mesmo que buscar o socorro do judiciário.
Outro lado meu, acha que ela ter entrado na justiça com o pedido foi um desperdício de tempo do judiciário. Que já está atolado de serviço e em defasagem de número de funcionários graças aos nossos políticos que não sabem gerencias nossos recursos, só sabem roubar. Esse mesmo lado meu acha que elas poderia ter encontrado um outro modo de resolver esse dilema filosófico. Ela poderia, pra começo de história ter se matriculado no período matutino, aí ela não teria nenhum problema com a sexta e com a sua religião. Caso não tenha sido possível porque a faculdade não tinha esse curso noutro período. Ainda assim ela poderia procurar uma outra instituição.
Outra coisa que ela poderia ter feito, ficava de DP e cursava a matéria novamente no semestre seguinte, ou ainda, cursava apenas a matéria num outro dia, numa outra turma… evitando encher mais as mesas do judiciário.
Quantas pessoas não se ‘prejudicaram’ por não conseguir conciliar horários. Eu tenho uma amiga que ficava de DP todo o ano na faculdade de Engenharia porque ela tinha aulas laboratoriais que ela não podia frequentar por causa do trabalho. Eu mesma, não consegui fazer as horas de estágio ainda por causa do meu trabalho… em nenhum dos dois casos foi por causas religiosas, mas de qualquer forma foi por causa de uma obrigação extra-universidade.
O advogado da aluna disse que não estava havendo favorecimento a ela em depreciação aos demais alunos, mas eu discordo. Ela está sim, de uma forma bem sutil sendo favorecida. Quem fez, faz faculdade sabe o saco que é ficar de sexta-feira à noite, assistindo aula quando você trabalhou a semana toda e está no pó da rabiola.
É uma questão filosófica complicada… eu fico dividida. Mas eu sou da seguinte opinião (no geral). Eu acredito que em se tratando do judiciário deve sempre ser levado em conta o interesse público (interesse da maioria) sobre o interesse privado. Então, porque eu não professo a fé adventista eu não tenho direito a descansar nas sextas? Eu tenho que ir lá ficar assistindo todas as aulas… Não é interesse da maioria.
Se a justiça fosse perfeita, todos, sem exceção alcançariam seus direitos. A Universidade seria mais flexível não apenas para a moça que é adventista, mas também para aquele cara que não tem tempo para fazer aulas de laboratório, ou estágio, ou horas suplementares… Numa utopia, seria assim.
O ponto de vista da maioria sobre a minoria, é um princípio constitucional… mas nem ele é perfeito. Ele pode ser injusto… a história já comprovou isso diversas vezes, ainda mais quando se trata de religião. No princípio os pagãos, maioria, perseguiram os cristãos. Aí os cristãos viraram maioria e começaram a perseguir os pagãos. Houve um tempo que a maioria dos cristãos no Brasil eram católicos, hoje, aparentemente a maioria é evangélica, e a minoria é formada por ateus e outras crenças. E a minoria sempre acaba, de uma forma ou de outra sendo oprimida pela maioria.
Aí então eu me pergunto. Por que será que a moça ganhou a causa? Porque somos uma sociedade em sua maioria cristã e evangélica ou porque realmente o juiz resolveu seguir ao pé da letra a constituição???
Como eu disse, são sentimentos conflitantes. Me agrada ver os Direitos Constitucionais das pessoas serem respeitados. Mas ao mesmo tempo eu questiono… será que realmente somos todos iguais perante a lei como diz o artigo 5º da Constituição? Eu acho que estamos longe de sermos todos iguais perante a lei, haja visto que aqueles que aplicam as leis, que dizem o direito (os juízes) são homens e por conseguinte são falhos, e nunca vão analisar o caso friamente, sem fazer uso da sua opinião, dos seus valores morais, éticos e porque não dizer… religiosos?
Bom, esse post está ficando deveras longo, vou terminar por aqui. Cada um de vocês, sintam-se livres (afinal a Constituição lhes garante esse direito) de tirar as próprias conclusões e de formarem os seus próprios juízos sobre o assunto.
See you guys around the corner
Shao
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