Fala terráqueos como vão vcs? Cês tão legais? Como tá a vida de vcs? Tá Boa? Tá ruim? Tá coisada que nem a minha? Espero que não… Eu nem posso reclamar, na verdade, eu posso sim reclamar, todo mundo pode… e a gente sempre reclama de tudo não é mesmo? Então eu vou dizer que eu tô legal…

Quem acompanha meu blogue há muito tempo sabe um pouco da história da minha vida, sabe que meus pais se separaram eu ainda era bem pequena, três anos… eram os anos 80 então, e mulheres desquitadas (na época não existia divórcio nas leis do país) eram extremamente mau vistas. Por diversas razões, minha mãe e eu fomos morar com meus avós. Primeiro por causa dessa questão social de mulher desquitada, morando sozinha e tal, e segundo e mais importante para a minha mãe… porque meu pai deixou a gente sem nada, e o salário da minha mãe não dava para pagar todas as contas do mês. Então até eu ter uns oito, nove anos … quem ajudou a me criar foram meus avós.

Meu avô acabou se tornando a minha referência do que era ser um pai de família. Não só para mim, mas para outros primos meus quando minhas tias e tios terminaram seus respectivos relacionamentos e tiveram que voltar para a casa dos meus avós. Hoje em dia se fala muito em alienação parental. Mas a verdade é que já faz parte da nossa cultura (eu não sei como funciona em outros cantos do mundo, mas por aqui é assim) os avós ajudarem a criar os filhos dos filhos. Já existe essa ajuda mesmo quando o casal tá junto, ela acaba se tornando ainda mais vital quando um casamento acaba.

Meu avô, pai da minha mãe… diferente do pai dele que era um carrasco com os filhos, era um homem bom, carinhoso, trabalhador, que adorava os filhos e os netos. Ele não era muito de beijos e abraços, até porque ele não foi criado assim. Mas ele demonstrava o quanto nos amava, fazendo o possível e o impossível pela família. Toda vez que surgia algum problema, ele estava lá… minha família sempre foi matriarcal, as mulheres falando mais alto e dando ordens. Mas no meio desse fuzuê de vozes masculinas, meu vô escolheu o caminho do… falar pouco e fazer muito. Ele deixava minha vó acreditar que ela mandava nele, mas no final das contas ele fazia o que dava na telha dele.

Meu vô era um marido provedor, a partir do momento que ele conseguiu um emprego bom e pôde manter toda a família ele disse pra minha vó que se ela não quisesse ela não precisava trabalhar mais, e ela, ficou em casa. Mas ele não era um marido perfeito, ele tinha cara de galã de novela dos anos 60 quando era moço, tocava violão, amava um bom vinho e uma festa e era mulherengo pra caramba, e não resistia a um rabo de saias. Minha vó tomou tanto chifre na vida, que acho que o que ela tinha tantos chifres quanto a medusa tinha cobras na cabeça. E ele… inveteradamente… pulava a cerca.

Mas, como pai e avô ele era um cara irrepreensível (até a página dois também né… porque nessas puladas de cerca, ele teve um filho fora do casamento que nunca reconheceu), então… assim, irrepreensível para conosco. E meu vô era muito ligado com a mãe dele, a vó Conceição… uma portuguesa doce, de voz mansa, carinhosa e devota de Nossa Senhora de Fátima. Diferente do marido, ela era amorosa e cheia dos abraços, beijos e, sempre tinha uma balinha pra dar pra gente. Meu avô era o segundo filho e ele adorava a mãe… Minha avó, adorava a sogra, ela sempre dizia… Dona Conceição foi mais mãe para mim que minha própria mãe! Foi ela quem fez o parto da minha mãe… foi ela quem escolheu o nome Maria Cristina, para a minha mãe… muito católica, em homenagem à Virgem Maria e à Santa Cristina… porque minha mãe nasceu no mês de Santa Cristina (que nos livro das histórias dos santos conta que Cristina de Bolsena – que nasceu no Líbano e morreu na Toscana na Itália – era uma virgem cristã, torturada e morta por seu próprio pai, um rico e pagão comerciante que queria que ela abandonasse a fé em Cristo. Ela morreu por sua fé, por volta do ano 300 d.C. – coincidência ou não, minha mãe teve uma vida bem tortuosa).

A verdade é que eu cresci cercada de pessoas que a mim se assemelhavam a muralhas, cada uma dessas pessoas representava um pilar para mim. Meu avô, que é o objeto do texto de hoje, era um homem que não chorava. Porque ele cresceu sendo ensinado que “homem não chora”. A primeira vez que eu vi meu avô chorando foi quando a mãe dele, minha bisa Conceição morreu. Ela tinha voltado pra Portugal, nos últimos anos da sua vida para morar com uma das filhas. Meu avô, pobre, já não via a mãe há muitos anos… e ele sonhava em ir para a terra da mãe e revê-la… não conseguiu. Na época, ainda não existia internet, até telefone era caro… a notícia veio numa carta… que chegou muito tempo depois da morte dela… E, eu vi meu vô entrar num cômodo da casa… se esconder atrás da porta e chorar sozinho por muito, muito tempo… e todo mundo ficou sem saber o que dizer, o que fazer e como consolar aquele que era o apoio de todo mundo.

Então, depois de um tempo ele enxugou as lágrimas, saiu do cômodo e quando ele passou por mim ele apenas fez um carinho na minha cabeça e olhou pra mim como se estivesse me vendo pela primeira vez, eu estava brincando, lembro de ter me levantado e abracei ele… e sorri… ele sorriu de volta. E eu disse, ow que menino lindo! E então… ele deixou escapar uma risada… daquele dia em diante… eu sempre chamava ele de menino. Chegava na casa dele, e ele estava lá mexendo no motor do carro, e eu falava… que vc tá aprontando hein menino? E ele ria…

As pessoas dizem, não deixe de dizer para as pessoas que vc ama que vc as ama antes que seja tarde demais, mas em certos casos… eu acho que nem é preciso. Eu nunca disse para ele as palavras “eu te amo” e ele nunca me disse de volta… mas nunca precisamos ouvir… a gente sabia. E agora que ele já se foi… o sentimento permanece… Te amo vô!

Vou terminando este post por aqui… Espero ver vcs no próximo texto! Se vc curtiu o texto clique aí na estrelinha, compartilhe com seus amigos e se vc também tem um blogue, deixa aí embaixo nos comentários que eu adoraria conhecer o blogue de vcs!

Abraços, Shao.